Telmo
Macedo de Andrade
Atualmente
a saúde pública destaca o grande ônus econômico relacionado as fraturas. A
reconstituição óssea é um processo complexo que necessita da interação de
vários fatores e este processo está condicionado à determinantes como amplo
suprimento sanguíneo, estabilidade mecânica, presença de arcabouço
tridimensional e tamanho do sítio lesionado. Para tanto a utilização de
biomateriais já denotam uma melhora nesse processo e uma dos instrumentos
utilizados é a rotofiação (GIANNONA,
2007;
VICTORIA et al., 2009)
A
bioengenharia tecidual é um campo multidisciplinar que envolve a aplicação de
princípios e métodos da engenharia e das ciências da saúde para assistir e
acelerar a regeneração e o reparo de tecidos defeituosos ou danificados. (TABATA,
2009; KIM et al, 2006).
O
tecido ósseo apresenta diversas características estruturais especialmente
relacionadas a sua composição: hidroxiapatita, colágeno, pequena quantidade de
proteoglicanos, proteínas não colágenas e água. O osso possui a capacidade de
crescer, modificar sua forma e realizar auto reparo quando fraturado. Pesquisas
como a de Doblaré et.al têm identificado
medicamentos capazes de acelerar a consolidação de fraturas e melhorar a
qualidade do calo ósseo. (DOBLARÉ, 2014).
Uma
das alternativas são as enxertias ósseas. Os enxertos podem ser autógenos
(mesmo indivíduo), isógeno (indivíduos com mesma carga genética), homógenos
(indivíduos com carga genética diferente) e os heterógenos (outras espécies).
Em situações nas quais não há possibilidade para realizar o autoenxerto, o
auxílio para o reparo de fraturas ósseas pode ser obtido com a utilização de
materiais sintéticos. (DEL VALLE; CARVALHO;
GONZALEZ, 2006)
Dentre
os aspectos mais relevantes deve-se levar em consideração a biocompatibilidade,
a biodegradabilidade, biofuncionalidade, as propriedades mecânicas e a
arquitetura semelhante ao osso, bem como existir tecnologia existente para
fabricação, de forma acessível do ponto de vista financeiro (O’BRIEN, 2011)
Dentre os materiais
bioabsorvíveis utilizados como suporte para a cultura de células na engenharia
tecidual, o polímero policaprolactona (PCL)
apresenta grande potencial de uso, pois apresenta características mecânicas
semelhantes aos dos materiais biológicos (BARBANTI et al., 2011; SENEDESE,
2011).
O PCL é um
termoplástico sintético, denso e poroso, preparado com características
precisas, que permitem o crescimento, a proliferação celular e a formação de um
novo tecido. É descrito como um material biodegradável e biorreabsorvível
(SENEDESE, 2011; EAP et al., 2012; GANESH et al., 2012).
A policaprolactona apresenta uso para
reconstituição nervosa periférica, sistemas de liberação controlada de drogas
ou, como substituto ósseo associando-se com hidroxiapatita (CHOONG et al.,
2006; CHEN et al., 2011; GANESH et al., 2012; LOHFELD et al., 2012).
A rotofiação é uma técnica
utilizada para produção de fibras ultrafinas que utiliza a alta velocidade como
princípio básico. Uma determinada solução à base de polímeros são inseridas em
um reservatório que será exposto à rotação (3000 à 18000 rpm). No processo de
rotofiação os fios são formados pela expulsão da solução polimérica através dos
orifícios de vazão, quando o conjunto gira em seu próprio eixo e sofre uma
aceleração centrípeta e um processo de centrifugação, onde o efeito causado é o
lançamento da solução para fora, formando os fios (figura 01 e 02) (BADROSSAMAY
et al., 2010; ZAVAGLIA et al., 2012).
Este processo consiste em um reservatório com quatro orifícios alocados em suas paredes acoplado a um motor que controla sua velocidade de rotação. Durante o processo o reservatório que contém a solução polimérica deve ser continuamente alimentado para garantir uma pressão hidrostática constante e um fluxo contínuo, resultando em fibras que serão removidas da parede do coletor cilíndrico.
![]() |
Figura 02 - Ilustração do mecanismo de formação das fibras (a) iniciação do jato, (b)
extensão do jato (c) evaporação do solvente. Adaptado de Badrossamay et al., (2010) in Brito (2013)
|
Devido às
características acima descritas associadas ao seu baixo custo, a rotofiação
consiste em um processo rápido e fácil para fabricação de fibras compósitas sem
necessidade de propulsor elétrico, sendo capaz inclusive de fabricar estruturas
de fibras alinhadas tridimensionalmente de uma extensa variedade de polímeros
podendo (BADROSSAMAY et al.,
2010).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALAMEIN, M.A. et
al. Mass Production of Nanofibrous Extracellular Matrix
with Controlled 3D Morphology for Large-Scale Soft Tissue Regeneration. Tissue
Engineering. v. 19, n. 6, p. 458-472, 2013
BADROSSAMAY, M.R. et al. Nanofiber
Assembly by Rotary Jet-Spinning. American Chemical Society. Nano Lett:
v.10, p. 2257-2226, 2010
BARBANTI, S. H. et al.
Poly(e-caprolactone) and poly(D,L-lactic acid-co-glycolic acid) scaffolds used
in bone tissue engineering prepared by melt compression– particulate leaching
method. Journal of Materials
Science: Materials in Medicine, n. 22, p. 2377–2385, 2011.
BRITO, T.A.V. Preparação
e Caracterização de Nanofibras da Blenda PLLA/PCL obtidas pelos Processos de Eletrofiação
e Rotofiação. 2013. Dissertção
(Mestrado). Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas
CHEN, M. et al. Self-assembled composite matrix in a
hierarchical 3-D scaffold for bone tissue engineering. Acta Biomaterialia,
n. 7, p. 2244-2255, 2011.
CHOONG, C. S. et al. Co-culture of bone marrow
fibroblasts and endothelial cells on modified polycaprolactone substrates for
enhanced potentials in bone tissue engineering. Tissue Engineering, n.
12, p. 2521-2531, 2006.
DEL VALLE, R. C. CARVALHO, M. L., GONZALEZ.
Estudo do comportamento de enxerto ósseo com material doador
obtido dos bancos de tecidos músculo-esquelético,. Revista de Odontologia da
Universidade Cidade de São Paulo, v. 18, n. 2, p. 189 - 194, 2006
DOBLARÉ M, G. J. Modelling bone tissue frature and healing: a
review. Eng Fract mech, p.13- 14, 2014.
GANESH, N. et al. Embedded silica nanoparticles in
poly(caprolactone) nanofibrous scaffolds enhanced osteogenic potential for bone
tissue engineering. Tissue Engineering, n. 18, p. 1867-1881, 2012. Part
A.
GIANNONA, S
et al. Vertically aligned carbon nanotubes as cytocompatible material for
enhanced adhesion and proliferation of osteoblast like cells. Journal of Nanos Science and
Nanotechnology, v.7, p. 1679, 2007.
KIM, S-S. et al. Poly(lactide-co-glycolide)/hydroxyapatite
composite scaffolds for bone tissue engineering. Biomaterials, v.27,
n.8, p.1399-1409, 2006
LOHFELD, S. et al. Fabrication, mechanical and in vivo
performance of polycaprolactone/tricalcium phosphate composite scaffolds. Acta
Biomaterialia, n. 8, p. 3446-3456, 2012.
O’BRIEN, F. Biomaterials &
scaffolds for tissue engineering. Materials, v.14, p. 88-95, 2011.
SENEDESE, Ana
Lívia Chemeli. Estruturação tridimensional de scaffolds de policaprolactona
via manufatura aditiva. 2011. 114f. Dissertação. Faculdade de Engenharia
Química, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011.
TABATA, Y. Biomaterial technology for tissue
engineering applications. Journal of the
Royal Society Interface, London, v.6, n.3, p.311-324, 2009.
VICTORIA, G, et al. Bone stimulation for fracture healing: What´s all
the fuss? IJO, v. 43, n. 2, p. 117-20, 2009
ZAVAGLIA, C.A.C.
et al. Dispositivo modular de rotofiação, método de operação e uso.
2012, pedido de patente: BR1020120084040.