Teresa
Marly Teles de Carvalho Melo
Um
dos objetivos da Dentística na odontologia restauradora é a preservação do
elemento dentário com a finalidade de manter a função da mastigação,
recuperando o tecido perdido pela ação da doença cárie, na tentativa de evitar
as recidivas. Entre os materiais utilizados para restaurações do elemento
dentário, o ionômero de vidro é um material emergente que possui propriedades
importantes como a adesão ao dente, é estético e libera íons de flúor (SILVA et
al, 2011) Por outro lado, a maior desvantagem deste material está
relacionada a baixa resistência à
abrasão e tração, dificultando a sua utilização nas restaurações dentárias
posteriores onde ocorre uma maior intensidade da mastigação (RIZZANTE et al
2015).
A literatura ainda é incipiente em relação ao
reforço deste material para com suas propriedades de compressão e desgaste com
a finalidade do seu uso na odontologia estética posterior.
O ionômero de vidro pode ser definido como um
polímero formado por grupos catiônicos e/ou aniônicos, sendo um material
composto de um pó de silicato e um líquido que contém ácidos carboxílicos
(PASSOS, 2013).
O
ionômero de vidro é um material formado por partículas inorgânicas de vidro dissipadas
em uma matriz insolúvel de hidrogel que atua como ligação, ou seja é
aglutinação do pó com o líquido (FOOK et al, 2008). Segundo o estudo de Vieira et al (2006), este
cimento foi divulgado inicialmente por Wilson e Kent, pesquisadores da
Inglaterra, no ano de 1971. Este
material é o resultado do objetivo de melhorar os cimentos de silicatos, que
eram utilizados em pequenas restaurações em dentes anteriores, com a adição de ácidos
orgânicos, de modo que viessem a conferir melhores propriedades a este cimento.
Costa
et al (2010) revelou que as propriedades dos cimentos ionômeros de vidro (CIVs)
são únicas, como a biocompatibilidade, adesão à estrutura dental,
anti-cariogênicas, compatibilidade à estrutura dental, baixo coeficiente de
expansão térmica, e baixa toxicidade ao tecido pulpar.
Reinke,
(2010) revela que os CIVs é um material biocompatível se aderindo quimicamente aos
tecidos dentários duros, liberando fluoretos e com um coeficiente de expansão
térmica similar a estrutura dentária.
Rizzante
et al (2015) se refere ao ionômero de vidro como um material que tem a capacidade
de liberação e armazenamento de flúor, revelando que esta é a principal
propriedade, onde libera fluoretos que vão aderir a superfície do elemento
dentário, protegendo contra a cárie e contribuindo no processo de
remineralização.
Davidson
(2006) relatou que a adesão de ionômero de vidro à estrutura dental aumenta a
sua qualidade com o tempo, podendo ser ativo e libera fluoreto
proporcionalmente à acidez e não é tóxico para polpa dentária.
Quanto
às propriedades térmicas, os CIVs possuem um coeficiente de expansão térmico
linear muito próximo ao esmalte e dentina associada a uma baixa condutividade
térmica, ou seja, este material possui uma similaridade a estrutura dental e
possibilita um adequado vedamento marginal
(RODRIGUES, 2014).
Todas
estas vantagens fizeram com que os cimentos ionômeros de vidro se tornassem
amplamente utilizado na odontologia. Entretanto, os CIVs apresentam baixa
resistência ao desgaste e são susceptíveis à fratura, limitando sua utilização
em cavidades submetidas à forças oclusais intensas (PASSOS, 2013).(
Paradella
(2004) relatou que estes materiais com as mais variadas composições estão no
mercado, como: Ligas metálicas em pó, componentes resinosos foram adicionadas à
composição dos CIV com o objetivo de melhorar sua resistência e estética.
Bacchi;
Bacchi; Anziliero (2013) citam que os CIVs podem ser classificados em três
categorias: 1) Convencionais, que são aqueles que em pó e líquido formam um sal
hidratado; 2) Cermets, que são reforçados por metais, com partículas metálicas
incorporadas ao pó do cimento convencional, como a prata e a sílica; 3) e os modificados
por resina.
Os
CIVs são materiais caracterizados por uma reação química ácido-base entre uma
base de pó de vidro de fluoraluminosilicato de cálcio e uma solução aquosa de
ácido polialcenóico, cujo resultado final é a formação de um sal. A reação tem
início logo após a mistura do pó de vidro com a solução poliácida (VIEIRA, I.
M. et al., 2006). Tais materiais são hidrofílicos o que implica em absorver
água, para que as reações químicas ácido-básicas possam ocorrer (TROCA, 2007).
O
CIVs é comercializado na forma de pó e líquido. A mistura destes dois
componentes resulta em materiais de consistência que variam de pastosa a de
baixa viscosidade, de acordo com os componentes e percentuais do pó e do
líquido do cimento utilizado. Uma vez que ocorre o endurecimento da mistura, o
cimento alcança a rigidez necessária a sua aplicação (PASSOS, 2013).
Viera
et al. (2006), descreve que o pó é de caráter básico sendo constituído de
partículas vítreas, como sílica, ou óxido de silício (SiO2), óxido de
alumínio, ou alumina (Al2O3) e fluoreto de cálcio (CaF2).
É dito, então que o pó é um vidro de fluoraluminosilicato de cálcio. Há ainda outros
componentes como o magnésio e o sódio, porém em quantidades menores.
De
acordo com Loguercio et al. (2007), no
líquido do CIV, o grupo carboxílico é o responsável pela adesão química a
estrutura dentária, essa ionização só ocorre pela presença da água, mesmo esta
não fazendo parte da constituição do material.
Boscarioli
et al (1996) citou que o material deve ser inserido na cavidade dentária
enquanto apresentar brilho porque indica a presença dos carboxilicos livres que
irão reagir com a estrutura dental.
Santos
(2012) relata que a água tem grande importância na etapa inicial da reação de geleificação
do cimento, a hidratação forma um gel estável e mais resistente e menos susceptível
à umidade, mas alerta que se o cimento não estiver curado, deve-se evitar a
exposição ao ambiente, contaminação pela saliva, pois a superfície do cimento
sofre desidratação e forma fendas e trincas.
Classificação dos cimentos de ionômero de vidro
Os
cimentos de ionômero de vidro podem ser classificados de duas formas: A
primeira é de acordo coma sua aplicação clínica na odontologia e a segunda é
com base na sua composição química.
De
acordo com a classificação de Costa (2010), as suas aplicações clínicas, são:
Tipo
I - para cimentação ou fixação de restaurações rígidas.
Tipo II – para restaurações diretas,
estéticas e intermediarias ou reforçadas.
Tipo III - para forramento de cavidades ou
base e selamentos de cicatrículas e fissuras.
Segundo Fook et al (2008), a classificação da composição
química dos ionômeros:
A) Cimentos convencionais
Estes
cimentos são caracterizados pela reação química de um pó com uma solução aquosa
de polímeros de homo e copolímero de ácido acrílico contendo ácido tartárico.
Os elementos do pó são responsáveis pela resistência, rigidez e liberação do
flúor (FOOK et al., 2008).

Silva
(2013) cita que a reação de presa deste material é exotérmica a 5°C e inicia-se
a partir do contato entre pó e líquido, originando uma reação ácido-base para
formar um sal, sendo esta dividida em 3 fases. A primeira fase é responsável
pela resistência mecânica do material. Na segunda fase ocorre a perda de água
para o meio oral, devendo este ser protegido com vernizes adesivos que darão
mais resistência à desidratação e formação de fissuras. E a terceira fase é a
geleificação nas 48h ocorrendo à presa final.
B) Cimentos
reforçados por metais
Apresentação destes cimentos são na
forma de partículas metálicas incorporadas ao pó do cimento convencional ou
resultantes da sinterização de partículas de prata e sílica dos ionômeros convencionais,
os chamados cermets (BACCHI; BACCHI; ANZILIERO, 2013).

A adição de limalhas de
amálgama ao ionômero de vidro convencional e não apresentou propriedades
adequadas uma vez que a adição de amálgama causou escurecimento das margens da
restauração.

Fonte:
http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-38882011000100004&lng=es
C) Cimento
de alta viscosidade
Este
ionômero surgiu a partir da utilização da técnica do tratamento restaurador
atraumático (ART). Ocorreu o aperfeiçoamento das propriedades físicas dos
cimentos ionomérico convencionais, para que pudessem ser empregados em áreas
sujeitas a esforços mastigatórios, estes possuem propriedades melhoradas,
superior resistência à compressão, resistência à abrasão. (VIEIRA, 2006).

D) Cimentos
modificados por monômeros resinosos
Este
foi desenvolvido para dar uma melhoria nas características de trabalho, melhor
resistência e estética e seu diferencial foi à incorporação de monômeros
resinosos na fórmula original do ionômero. A principal forma de endurecimento
do material teria que ser através da reação ácido/base, clássica do ionômero.
Freitas
(2011) revela que os monômeros resinosos foram adicionados aos CIVs para
substituir uma parte do líquido, ocorrendo uma melhoria nas propriedades
físicas deste material, com as vantagens de maior tempo de trabalho,
manipulação e tempo de presa mais rápido.

Atualmente
se usa o Bis-GMA um material com propriedades mecânicas mais reforçadas. O
tempo de trabalho também passou a ser controlado, já que a porção resinosa era
fotopolimerizada. Além disso, o material passou a ser mais translúcido (VIEIRA
et al, 2006).
De
acordo com Chammas et al (2011) está sendo estudado formas de melhorar as
propriedades deste material, que tem como finalidade de manter as suas vantagens
e de reduziras suas desvantagens. A primeira opção é aprimorar suas propriedades
por meio de adição de micropartículas ou nanomateriais na sua composição. A
segunda opção seria estudar a proporção de pó e líquido para aperfeiçoar a sua
aglutinação e sua inserção na cavidade dental para diminuir a porosidades no
interior do material para evitar trincas e fendas.
Miranda
et al (2013) revelou que o propósito é conseguir todas as propriedades físicas
deste material, onde a dureza superficial é de suma importância, pois determina
a resistência e a sua deformação quando sofre impacto por corpos duros. O autor
supracitado define que dureza é a amplitude de um material resistir as forças
oclusais e as penetrações de outro.
De acordo com Borges et al (2004) a
microdureza superficial deste material é definida como sendo a atividade da
textura microestrutural, a qual é empregada para se predizer a resistência de
um material e sua capacidade de abrasionar estruturas opostas. A Microdureza é
a determinação da dureza de pequenas áreas de um corpo de prova, que são as
endentações estáticas provocadas por cargas menores que 1kgf. As dimensões da marca de penetração
(indentação ) assim deixada na superfície são então medidas e há vários tipos
de teste, mais o utilizado são o Vickers e o Knoop.

Avelino
(2014) revela que estudaram a dureza pelo método Vickers superficial dos CIV
convencional, modificados por resina e resina modificada por poliácidos e
também pelo método Knoop e a resistência à compressão de um CIV convencional e modificado
por resina.
Segundo
Cunha (2014) a propriedade mais importante é a microdureza, pois é a capacidade
de um material resistir e não deformar durante as forças mastigatórias no
processo da mastigação. A resistência a desgastes e alta resistência ao corte
são características muito importante de um material devido contribuir na
durabilidade das restaurações de CIV, pretendendo aplicar este material em
restaurações posteriores na saúde pública com a finalidade da melhoria da saúde
bucal pública da população.
A
literatura revelou que se estuda a condição de adicionar ao ionômero de vidro partículas
metálicas, sinterização, com a finalidade reter as características boas do
metal e não prejudicando as vantagens do CVIs. Vários estudos citam o titânio,
liga de prata, hidroxiapatita, clorexidina, nanopartículas de carbono e bário.
Ainda
não há um consenso na proporção exata de um material para esta
adição, a finalidade é substituir as restaurações posteriores realizadas com
resina fotopolimerizável para o ionômero de vidro, devido as suas já enumeradas
vantagens como material restaurador odontológico.
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