Resina infiltrante em estrutura dental
submetida à erosão
Danyege Lima Araújo
Ferreira
As atividades direcionadas
para a Saúde Bucal no Brasil, durante muito tempo, foram fragmentadas do
Sistema único de Saúde (SUS), sendo dessa forma ofertadas de forma paralela à
organização dos serviços de saúde, demonstrando baixo poder de resolubilidade e
assim, sendo impossível de resolver os problemas de saúde bucal da população.
Como consequência observou-se uma população com alta índice de cárie. Em 2004,
com o lançamento da Política Nacional do Brasil Sorridente, as ações de
odontologia passaram a ser integrada com os serviços de saúde, trabalhando a
vigilância de saúde; com isso, atualmente, verifica um declínio da doença
cárie, em países desenvolvidos, assim como no Brasil (SSBRASIL, 2010). Com a
diminuição da doença cárie, tem-se observado o aparecimento de outras lesões
bucais, uma vez que os dentes permanecem mais tempo na cavidade bucal, dentre
essas lesões pode-se destacar a erosão (JAEGGI; LUSSI, 2006). Embora a
prevalência das lesões de erosão variar amplamente na população, observa-se, em
algumas pesquisas um aumento da sua incidência (DUGMORE; ROCK, 2013; SILAS et
al, 2015). Dessa forma, esse tema tem ganhado importância nacional e deve ser
abordado com atenção pela comunidade
científica e clínica visando a consolidação de um tratamento efetivo.
A erosão pode ser definida pela perda
irreversível e cumulativo do tecido dentário, devido à ação do ácido de origem
intrínseca e/ou extrínseca e que pode ser agravada com o tempo, devido à
interação com outros tipos de desgaste (BARTLETT, 20016; SILLAS et al, 2015).
Nos estágios iniciais da lesão, há apenas uma desmineralização do esmalte sem
perda estrutura dentária, sendo, portanto, passível de remineralização (LUSSI, et
al; 2011). Para alguns autores, a terminologia “erosão” e “desgaste dentário
erosivo” para permitir a diferenciação entre os dois aspectos do processo
erosivo (SHELLIS et al, 2011). A erosão ocorre quando há uma perda da
integridade estrutural e resistência mecânica causada pelo efeito ácido sobre a
superfície dentária, enquanto que o desgaste dentário erosivo acontece devido
ao efeito erosivo prolongado com repetidos eventos de amolecimento do esmalte
(HUYSMANS; CHEW; ELLWOOD, 2011).
Como pode ser observado a lesão de
erosão além de apresentar diferentes estágios de desenvolvimento, também
apresenta além da exposição dos ácidos outros fatores etiológicos, como:
fatores químicos, biológicos, socioeconômico e comportamentais (MAGALHÃES,
2009; SALLAS et al, 2015). Dessa forma, as bebidas ácidas, como refrigerantes,
sucos de frutas cítricas e uso de drogas ácidas, nem sempre podem causar a
erosão, pois o seu aparecimento depende: do tipo da bebida ácida, do tempo e da
frequência de exposição a essas substâncias (OKUNSERI, 2011), da anatomia
dentária, da qualidade e quantidade da saliva presente (MAGALHÃES et al, 2009),
da associação ou não com desafios mecânicos, como atrição e abrasão (LUSSI,
JAEGGI, 2006).
Muitos estudos têm sido direcionados
a fim de entender o mecanismo de erosão e de prevenir sua formação ou conter a
sua progressão (HONÓRIO et al, 2010; WANG et al, 2011). Porém existem poucos
resultados conclusivos a respeito da prevenção desta condição clínica (LUSSI ,
2006; WANG et al, 2011). A prevenção e o tratamento da erosão não é tão
simples, principalmente quando envolve fatores comportamentais, uma vez que
nestes casos o tratamento consiste na remoção da causa que na, maioria das
vezes, não é seguida ou aceita (LUSSI; CARVALHO, 2014). Por esta razão, muitas
pesquisas recomendam para prevenção e tratamento da erosão dentária o uso de
vários componentes fluoretado (LUSSI; CARVALHO, 2014; GANSS et al, 2008).
Portanto, há controvérsia na literatura quanto ao efeito do flúor na redução ou
prevenção dessa condição clínica (SCHLUETER et al, 2009; AUSTIM et al, 2011).
Dessa forma, alguns autores testaram
a aplicação de selante resinoso de fossas e fissuras e/ou sistema adesivo sobre
a estrutura dentária erodida para a formação de uma barreira mecânica entre o
esmalte e a dentina contra a desafios subsequentes. Sendo que a maior parte
desses estudos foi realizado em dentina, dessa forma quando o material resinoso
(selante ou adesivo) é aplicado sobre a dentina observa-se uma maior
infiltração e penetração nesta estrutura dentária. Este mecanismo chama-se de
zona híbrida reforçada por resina, protegendo, assim a dentina contra a ação
dos ácidos (AZZOPARDI et al, 2001; AZZOPARDI et al, 2004). Nesta pesquisa
observou que embora, o sistema adesivo ter apresentado o efeito protetor no
período de até três meses AZZOPARDI et al, 2004), a aplicação do selante
resinoso apresentou resultados melhores com efeito protetor de noves meses
(BARTLETT, SUNDARAM; MOAZZEZ, 2011).
Atualmente foi lançado no mercado
internacional uma resina de baixa viscosidade, com alto poder de penetração e
fotopolimerizável, conhecida como infiltrante (MEYER-LUECKEL et al, 2006;
PARIS, 2013). Esse produto foi desenvolvido para inibir a progressão da lesão
cariosa por meio da formação de uma barreira de difusão no interior da lesão
desmineralizada, substituindo o mineral perdido. Estudos comprovam a eficiência
desse produto quanto a diminuição e/ou paralisação de lesões cariosas (MEYER-LUECKEL
et al, 2006; PARIS, 2011). Apesar das diferenças existentes entre a lesão
cariosa e a erosão dentária, considerando que o efeito de penetração do
infiltrante tem mostrado mais eficiente que o sistema adesivo e selante (PARIS,
2013), esse material pode ser uma alternativa para o tratamento e/ou prevenção
de lesões iniciais de erosão dentária (HONÓRIO et al, 2010; PARIS, 2013).
Acredita que esse material possa ter a capacidade de penetrar na superfície
hígida e na superfície erodida inicialmente, sendo essa previamente
condicionada com ácido fosfórico, criando uma barreira mecânica, impedindo
dessa forma, a ação do ácido na estrutura dentária e, consequentemente,
inibindo ou paralisando a erosão dentária. Por outro lado, ainda é questionável
até que ponto o condicionamento da superfície para que haja a penetração do
infiltrante, poderia ser capaz de remover camada da estrutura dentária
amolecida das lesões iniciais de erosão. Dentre deste viés, o infiltrante pode
ser uma alternativa na lesão inicial de erosão, comparando a ação de penetração
desse produto com o sistema adesivo e o selante resinoso em dentes com erosão.
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