Lívia Maria
Nunes de Almeida Castelo Branco
A fototerapia vem sendo
empregada para tratamento da icterícia neonatal com resultados satisfatórios e
com o atrativo de ser pouco invasiva. No entanto mau uso dos equipamentos é uma
observação recorrente no dia-a-dia clínico e pode levar resultados desastrosos
como queimaduras, cegueiras, além de submeter o recém-nascido a uma dose não
terapêutica. Assim há uma necessidade emergente de um profissional responsável pela
segurança no uso dessas tecnologias em saúde, que constitui uma
responsabilidade do engenheiro clínico.
A icterícia é um problema
frequente no período neonatal, caracterizada pela coloração amarelada da pele e
mucosas, devido ao excesso de bilirrubina no sangue, desencadeando um quadro denominada
Hiperbilirrubinemia neonatal (SOUSA; SENA, 2012). Caso não seja corretamente
diagnosticada e tratada, a alta concentração de bilirrubina desenvolve o
potencial de intoxicar o Sistema Nervoso Central, provocando o quadro mais
grave da doença conhecida como kernicterus
(AZEKA, 2009). Assim o diagnóstico correto e precoce da hiperbilirrubinemia
pode contribuir na redução das taxas de morbidade neonatal relacionadas a este
agravo (LIMA et al., 2007).
No Brasil anualmente, cerca de
1,5 milhões de recém-nascidos apresentam
icterícia, dos quais 250 mil manifestam as formas graves, com risco de kernicterus
ou óbito. Com o objetivo de
prevenir a impregnação cerebral pelo pigmento amarelado e suas complicações neurológicas
mais graves há uma variedade de opções terapêuticas, que incluem: a fototerapia, a exasanguineo-transfusao e a
terapia farmacológica, sendo a primeira a mais utilizada (FERREIRA et al.,
2010).
A fototerapia é utilizada desde a década de 60 no
tratamento da hiperbilirrubinemia e é a intervenção terapêutica de uso mais
frequente mundialmente no período neonatal devido o alto impacto da luz
na diminuição dos níveis de bilirrubina plasmática. (COLVERO; COLVERO; FIORI,
2005). Essa técnica consiste em colocar o neonato sob uma fonte de luz
fluorescente (SILVA et al, 2008). Mediante a absorção da luz pelo
recém-nascido, ocorre a degradação fotoquímica da bilirrubina impregnada na
pele, transformando-a em derivados hidrossolúveis, tornando-se passíveis
de eliminação renal e hepática (LOPEZ; CAMPOS JUNIOR, 2009). Esse
processo envolve dois mecanismos gerais: a fotooxidação, que envolve a
destruição da molécula do pigmento, e a fotoisomerização, relacionada a
conversão da molécula em uma forma mais hidrossolúvel (SILVA, IDERIHA, NETTO,
2001).
Dentre os modelos
de equipamentos fototerápicos lançados no mercado mundial estão o Biliberço®, o
Bilispot®, Biliblanket®, o Bilitron® e o Octofoto®, que devem ser prescritos
pelos médicos neonatologistas.
No intuito de garantir a
eficácia e a segurança dessa modalidade terapêutica, torna-se essencial o conhecimento dos cuidados criteriosos a serem adotados antes de sua utilização, tais como: comprimento
de onda (cor), intensidade de irradiância da fonte utilizada, bem como da
superfície corporal exposta, distância entre a fonte e a pele
(GOMES, TEXEIRA; BARICHELLO, 2010). O não
atendimento destes critérios técnicos podem prejudicar a eficácia terapêutica e
consequentemente a qualidade do tratamento oferecido ao RN ictérico.
A otimização da fototerapia será garantida com radiação na faixa
de 400-500nm, que irá variar de acordo com a luz utilizada. A luz fluorescente e
luz do dia apresentam pico entre 550-660nm, a azul entre
425-475nm, a azul especial entre 420-480nm e a verde próximo a 500nm. Todos esses
comprimentos de onda isomerizam a bilirrubina não-conjugada, no entanto, quanto
mais próximo o pico de absorção máxima de bilirrubina, maior será a fotodegradação
(SILVA; NASCIMENTO, 2006). O espectro azul da luz visível coincide com o
espectro de absorção da bilirrubina, sendo considerado desta forma como o mais
eficaz (MARTINS et al, 2007).
Oliveira et al. (2011) observam que a aferição da radiação constitui
em um dos marcadores da eficácia do equipamento, necessitando ser verificada
através dos radiómetros/fotómetros. É indicado que a medida seja realizada no
colchão em que o recém-nascido se encontra, medindo-se a irradiância nas 4
pontas e no centro, após é calculada a média dos 5 pontos identificados.
Considera-se a irradiância de 8–10 µW/cm2/nm como
convencional e a de 30 µW/cm2/nm, como
fototerapia de alta intensidade. Carvalho (2001) corrobora com o mencionado
anteriormente, afirmando que realizar a terapêutica sem determinar a
irradiância que está sendo ofertada, se constitui em ineficácia do tratamento,
considerando desta forma que eficácia da terapêutica está diretamente ligada a
quantidade de irradiância e a maior superfície corpórea iluminada.
Com o intuito de aumentar a
área de exposição do recém-nascido à fototerapia, o mesmo pode ser mantido despido,
com fraldas apenas. (FIORI, COLVERO, 2005).
Esse mesmo autor considera que
quanto maior a proximidade entre a fonte e o recém-nascido, maior a eficácia da
fototerapia. Nesse sentido, Carvalho, 2011, recomenda que essa distância seja cerca
de 30 cm na fototerapia convencional e 50 cm na fototerapia com lâmpada
halógena.
Quando os níveis de
bilirrubina aumentam constantemente e ininterruptamente, ocorrerá o aumento da
área de exposição da superfície corporal do recém-nascido, como também a
intensidade da fototerapia, sendo indicado o uso de painéis laterais, colchão
de fibra ótica, objetos refletores, com o intuito de a potencializar o
resultado da terapêutica (Silva et al, 2009).
Após o exposto podemos concluir que é necessário
que a equipe envolvida no manejo da fototerapia tenha um amplo conhecimento não
apenas referente ao diagnóstico e tratamento, mas também relacionado ao entendimento
do manuseio adequado e com segurança dos equipamentos. O que é possível através
do conhecendo das normas e rotinas existentes
e da sensibilização da equipe quanto a necessidade de adesão às mesmas,
garantindo desta forma respaldo cientifico e técnico
na assistência ofertada aos pacientes em tratamento. Nesse
contexto a figura do engenheiro clínico torna-se de fundamental importância,
uma vez que irá colaborar com o conhecimento técnico e informações sobre o uso
dos equipamentos de fototerapia, permitindo uma maior eficácia e eficiência no
processo.
REFERÊNCIAS
AZEKA, L. A. L.; Analisador de bilirrubina
no soro de neonatos utilizando espectrofotometria direta. 2009. Dissertação
(Mestrado em Processamento de Sinais de Instrumentação) - Escola de Engenharia
de São Carlos, University of São Paulo, São Carlos, 2009
CARVALHO,
M. Tratamento da icterícia neonatal. Jornal de Pediatria, v. 77, supl.
1, p. 71-80, 2001
COLVERO,
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Medica, Porto Alegre: PUCRS, v. 15, n. 2, abr./jun. 2005
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equipe de enfermagem. Rev. Eletr. Enf., v. 12, n. 2, p. 342-47,
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