turma animada e competente

turma animada e competente

UNIVAP - UESPI - Teresina

UNIVAP - UESPI - Teresina

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Adequação técnica dos equipamentos fototerápicos


Lívia Maria Nunes de Almeida Castelo Branco


A fototerapia vem sendo empregada para tratamento da icterícia neonatal com resultados satisfatórios e com o atrativo de ser pouco invasiva. No entanto mau uso dos equipamentos é uma observação recorrente no dia-a-dia clínico e pode levar resultados desastrosos como queimaduras, cegueiras, além de submeter o recém-nascido a uma dose não terapêutica. Assim há uma necessidade emergente de um profissional responsável pela segurança no uso dessas tecnologias em saúde, que constitui uma responsabilidade do engenheiro clínico.
A icterícia é um problema frequente no período neonatal, caracterizada pela coloração amarelada da pele e mucosas, devido ao excesso de bilirrubina no sangue, desencadeando um quadro denominada Hiperbilirrubinemia neonatal (SOUSA; SENA, 2012). Caso não seja corretamente diagnosticada e tratada, a alta concentração de bilirrubina desenvolve o potencial de intoxicar o Sistema Nervoso Central, provocando o quadro mais grave da doença conhecida como kernicterus (AZEKA, 2009). Assim o diagnóstico correto e precoce da hiperbilirrubinemia pode contribuir na redução das taxas de morbidade neonatal relacionadas a este agravo (LIMA et al., 2007).
No Brasil anualmente, cerca de 1,5 milhões de recém-nascidos apresentam icterícia, dos quais 250 mil manifestam as formas graves, com risco de kernicterus ou óbito. Com o objetivo de prevenir a impregnação cerebral pelo pigmento amarelado e suas complicações neurológicas mais graves há uma variedade de opções terapêuticas, que incluem: a fototerapia, a exasanguineo-transfusao e a terapia farmacológica, sendo a primeira a mais utilizada (FERREIRA et al., 2010).
A fototerapia é utilizada desde a década de 60 no tratamento da hiperbilirrubinemia e é a intervenção terapêutica de uso mais frequente mundialmente no período neonatal devido o alto impacto da luz na diminuição dos níveis de bilirrubina plasmática. (COLVERO; COLVERO; FIORI, 2005). Essa técnica consiste em colocar o neonato sob uma fonte de luz fluorescente (SILVA et al, 2008). Mediante a absorção da luz pelo recém-nascido, ocorre a degradação fotoquímica da bilirrubina impregnada na pele, transformando-a em derivados hidrossolúveis, tornando-se passíveis de eliminação renal e hepática (LOPEZ; CAMPOS JUNIOR, 2009). Esse processo envolve dois mecanismos gerais: a fotooxidação, que envolve a destruição da molécula do pigmento, e a fotoisomerização, relacionada a conversão da molécula em uma forma mais hidrossolúvel (SILVA, IDERIHA, NETTO, 2001).
Dentre os modelos de equipamentos fototerápicos lançados no mercado mundial estão o Biliberço®, o Bilispot®, Biliblanket®, o Bilitron® e o Octofoto®, que devem ser prescritos pelos médicos neonatologistas.
No intuito de garantir a eficácia e a segurança dessa modalidade terapêutica, torna-se essencial o conhecimento dos cuidados criteriosos a serem adotados antes de sua utilização, tais como: comprimento de onda (cor), intensidade de irradiância da fonte utilizada, bem como da superfície corporal exposta, distância entre a fonte e a pele (GOMES, TEXEIRA; BARICHELLO, 2010). O não atendimento destes critérios técnicos podem prejudicar a eficácia terapêutica e consequentemente a qualidade do tratamento oferecido ao RN ictérico.
A otimização da fototerapia será garantida com radiação na faixa de 400-500nm, que irá variar de acordo com a luz utilizada. A luz fluorescente e luz do dia apresentam pico entre 550-660nm, a azul entre 425-475nm, a azul especial entre 420-480nm e a verde próximo a 500nm. Todos esses comprimentos de onda isomerizam a bilirrubina não-conjugada, no entanto, quanto mais próximo o pico de absorção máxima de bilirrubina, maior será a fotodegradação (SILVA; NASCIMENTO, 2006). O espectro azul da luz visível coincide com o espectro de absorção da bilirrubina, sendo considerado desta forma como o mais eficaz (MARTINS et al, 2007).
Oliveira et al. (2011) observam que a aferição da radiação constitui em um dos marcadores da eficácia do equipamento, necessitando ser verificada através dos radiómetros/fotómetros. É indicado que a medida seja realizada no colchão em que o recém-nascido se encontra, medindo-se a irradiância nas 4 pontas e no centro, após é calculada a média dos 5 pontos identificados. Considera-se a irradiância de 8–10 µW/cm2/nm como convencional e a de 30 µW/cm2/nm, como fototerapia de alta intensidade. Carvalho (2001) corrobora com o mencionado anteriormente, afirmando que realizar a terapêutica sem determinar a irradiância que está sendo ofertada, se constitui em ineficácia do tratamento, considerando desta forma que eficácia da terapêutica está diretamente ligada a quantidade de irradiância e a maior superfície corpórea iluminada.
Com o intuito de aumentar a área de exposição do recém-nascido à fototerapia, o mesmo pode ser mantido despido, com fraldas apenas. (FIORI, COLVERO, 2005).
Esse mesmo autor considera que quanto maior a proximidade entre a fonte e o recém-nascido, maior a eficácia da fototerapia. Nesse sentido, Carvalho, 2011, recomenda que essa distância seja cerca de 30 cm na fototerapia convencional e 50 cm na fototerapia com lâmpada halógena.
Quando os níveis de bilirrubina aumentam constantemente e ininterruptamente, ocorrerá o aumento da área de exposição da superfície corporal do recém-nascido, como também a intensidade da fototerapia, sendo indicado o uso de painéis laterais, colchão de fibra ótica, objetos refletores, com o intuito de a potencializar o resultado da terapêutica (Silva et al, 2009).
Após o exposto podemos concluir que é necessário que a equipe envolvida no manejo da fototerapia tenha um amplo conhecimento não apenas referente ao diagnóstico e tratamento, mas também relacionado ao entendimento do manuseio adequado e com segurança dos equipamentos. O que é possível através do conhecendo das normas e rotinas existentes e da sensibilização da equipe quanto a necessidade de adesão às mesmas, garantindo desta forma respaldo cientifico e técnico na assistência ofertada aos pacientes em tratamento. Nesse contexto a figura do engenheiro clínico torna-se de fundamental importância, uma vez que irá colaborar com o conhecimento técnico e informações sobre o uso dos equipamentos de fototerapia, permitindo uma maior eficácia e eficiência no processo.

REFERÊNCIAS

AZEKA, L. A. L.; Analisador de bilirrubina no soro de neonatos utilizando espectrofotometria direta. 2009. Dissertação (Mestrado em Processamento de Sinais de Instrumentação) - Escola de Engenharia de São Carlos, University of São Paulo, São Carlos, 2009
CARVALHO, M. Tratamento da icterícia neonatal. Jornal de Pediatria, v. 77, supl. 1, p. 71-80, 2001

COLVERO, A. P; COLVERO, M. O; FIORI, R. M. Módulo de Ensino: Fototerapia Scientia Medica, Porto Alegre: PUCRS, v. 15, n. 2, abr./jun. 2005

FERREIRA, A. L. C.; NASCIMENTO, R. M.; VERÍSSIMO, R. C. S. S. Irradiância dos aparelhos de fototerapia nas maternidades de Maceió. Rev. Latino-am Enfermagem, v. 17, n. 5, p. 17-25, 2009.

GOMES, N. S.; TEIXEIRA, J. B. A.; BARICHELLO, E. Cuidados ao recém-nascido em fototerapia: o conhecimento da equipe de enfermagem. Rev. Eletr. Enf., v. 12, n. 2, p. 342-47, 2010. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/fen_revista/v12/n2/pdf/v12n2a18.pdf>. Acesso em: 16 dez.2015.

LIMA, G. M; PORTO, M. A. S. C; BARBOSA, A. P; CUNHA, A. J. L. A. Fatores de risco preditivos de hiperbilirrubinemia neonatal moderada a grave - Predictive risk factors for moderate to severe hyperbilirubinemia . Revista: einstein. 2007; 5(4):352-

LOPEZ, F. A.; CAMPOS JUNIOR, D. Tratado de Pediatria. 2ª ed. São Paulo:
Editora: Manole, 2009, 3000p.

MARTINS, B. M. R.; CARVALHO, M. Avaliação da eficácia terapêutica de uma nova modalidade de fototerapia utilizando diodo emissor de luz – LED. 2006. 84 f. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher) - FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Fernandes Figueira, Rio de Janeiro, 2006.

MACHADO, S. P. C.; SAMICO, SILVA, M. P. G.; NASCIMENTO, M. J. P. Fototerapia no tratamento das hiperbilirrubinemias neonatais. Revista de Enfermagem UNISA, v. 7, p. 44-47, 2006.

OLIVEIRA, C. S., et. al. Fototerapia, cuidados e atuação da Enfermagem.
UNICiências, v. 15, n. 1, p. 141-152, 2011.

SILVA L., et al. Desenvolvimento de um protetor ocular para fototerapia em recémnascidos: uma tecnologia. Rev Latino-am Enfermagem, v. 16, n. 1, p. 16-20, 2008

SOUSA, A. B. M de; SENA, D. S. L. Hiperbilirrubinemia Neonatal: considerações sobre fisiopatogenia, modalidades terapêuticas e complicações. Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 8, n. 2, Setembro 2012. P17-25


Nenhum comentário:

Postar um comentário