Francisca Miriane de Araújo Batista
Por
ser um problema de saúde pública mundial a Leishmaniose Tegumentar (LT) é uma
doença de notificação compulsória, sendo o Brasil, país com maior ocorrência da
doença no continente Americano. O diagnóstico é baseado nas características da
lesão, anamnese e características epidemiológicas da região de origem do
paciente e evidenciação do parasito em esfregaço ou biópsia de borda de lesão,
ou aspiração (SAÚDE, 2007; PENNA et al., 2011; REY, 2008; MENSATO; CUNHA,2007) e o tratamento é extremamente agressivo, caro
e debilitante para o paciente. Os antimoniais, por exemplo, são tóxicos ao
coração, fígado, rins, pâncreas e sistema hematopoiético as pentamidinas podem
levar a formação local de abscessos, problemas gerais como náuseas e dores
abdominais, além da possibilidade de levar à diabetes irreversível e a
Anfotericina B, por sua vez, pode levar à nefrotoxicidade (NEVES, 2005; REY,
2008; ALMEIDA; SANTOS, 2011; GOTO; LINDOSO,2010; ABADIR; HAIDER,2010)
Tratamentos
alternativos como crioterapia, criocirurgia, associação de quimioterapia e imunoterapia e ainda TFD vem
sendo amplamente estudados, devido à agressividade dos tratamentos convencionais
(LAYEGH et al, 2009; AKILOV et al, 2009)
A necessidade por novas drogas e novas formas de
terapia que possam ser utilizadas para o tratamento da LT é evidente, uma vez
apresentados as complicações dos tratamentos
convencionais. A TFD é uma terapia alternativa atraente para o tratamento da
forma cutânea pela seletividade do campo de tratamento, tornando possível
tratar as lesões individualmente, sem o impacto que as drogas administradas
sistemicamente apresentam.
Os
efeitos da TFD no tratamento da Leishmaniose Cutânea in vitro e in vivo tem
sido alvo de estudos, com diversos fotossensibilizadores como: Ftalocianinas,
Ácido aminolevulínico (5-ALA) e derivados, entre outros. Existe na literatura
uma grande variedade na concentração das drogas fotossensibilizadoras (0 -
500μM), formas de aplicação (tópica, endovenosa) e diferentes parâmetros de
iluminação (tempo de irradiação, comprimento de onda, potência, etc) (ABADIR;
HAIDER,2010; ISSA; MANELA-AZULAY, 2010).
Em seus estudos Akilov e colaboradores testaram (
AKILOV et al, 2009) a TFD in vitro com protoporfirina IX (PpIX), BpD (moléculas
porfirinóides) e análogos de benzofenoxazínicos (EtNBSe e EtNBS), observando
através de análise de viabilidade celular que a atividade fotodinâmica do FS
aumentou na seguinte ordem:PpIX<BpD<EtNBS<EtNBSe. Dutta e
colaboradores (DUTTA; CHANG; 2005) obtiveram resultados positivos com a
utilização de Alumínio ftalocianina clorada (AlPhCl) in vitro demonstrando que
esse FS não é tóxico para o parasita, quando administrado sem a aplicação de
luz, mas com a TFD as células morrem rapidamente e observaram ainda a lise dos
parasitas, induzida pelo tratamento.
Escobar e colaboradores (2006) testaram
ftalocianinas (alumínio e Zinco ftalocianina) em promastigotas de Leishmania in
vitro e observaram que a irradiação com 670nm inibiu efetivamente promastigotas
de Leishmania chagasi e Leishmania panamensis.
Em estudos realizados pelo grupo de pesquisa em
Parasitologia e Biotecnologia do Instituto de pesquisa e desenvolvimento-
UNIVAP (PINTO; MITTTMANN, 2011) foram
obtidos resultados positivos na aplicação de terapia fotodinâmica com a
Alumínio Ftalocianina Tetrasulfonada como fotossensibilizante. Para a cepa de
Leishmania major, foi observado diminuição da viabilidade e do crescimento dos
parasitas in vitro, entretanto o fotossensibilizante foi tóxico para os
parasitas mesmo no escuro. Com a cepa de Leishmania braziliensis, também foi
observado diminuição da viabilidade e crescimento in vitro, e o
fotosensibilizante não foi tóxico quando testado sem irradiação.
Todos esses resultados demonstram que a TFD pode vir
a ser implementada como um tratamento
alternativo para a LT, pois pode baratear o tratamento, além de ser uma terapia
menos agressiva que o tratamento convencional, usualmente administrado por
injeções diárias das drogas.
O objetivo do meu projeto será avaliar a ação da TFD
com Curcumina em promastigotas de Leishmania major e Leishmania braziliensis a
fim de verificar o potencial desses compostos para o uso em terapia
fotodinâmica. Serão realizadas análises morfológicas por microscopia
tradicional, além de microscopia eletrônica, análises bioquímicas pela técnica
de FT-IR (Espectroscopia de infravermelho), além da determinação da localização
intracelular do fotossensibilizador por microscopia confocal. Além da
viabilidade dos parasitas após a TFD, também será verificada a taxa de
recuperação de parasitas internalizados por macrófagos, após o tratamento, para
determinar a eficácia do tratamento com a TFD contra amastigotas de Leishmania
internalizados por macrófagos.
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