Ana Flávia Machado de Carvalho
Diabetes
Mellitus (DM) constitui um grupo de doenças
metabólicas com prevalência da hiperglicemia, resultante da alteração da insulina.
Como consequência há dificuldade no processo cicatricial, retardo na
proliferação celular, redução do tecido de granulação e a redução na produção
de fibras colágenas (OCHOA; TORRES; SHIREMAN, 2007; LIMA et al., 2014). De acordo com Moreira et al., (2011), a
aplicação da Terapia a Laser de baixa intensidade (TLBI) vem sendo utilizada
para acelerar o processo de reparo em tecidos distintos, de
baixo custo e eficiente no tratamento de úlceras. Pode ser associada a terapias
alternativas como os ácidos graxos essenciais (AGE) devido ao efeito
cicatrizante de ambos.
Segundo
Hashimoto e Koga, 2010, O DM tipo II acomete, em média, 95% dos portadores da doença, predominando em
indivíduos após os 40 anos de idade. Estar normalmente associado à obesidade
pela diminuição do número de receptores da insulina.
Diabéticos mal controlados podem
desenvolver a neuropatia diabética como complicação crônica. Constata-se que
cerca de 50% dos diabéticos com mais de 60 anos sofrerão esta alteração,
decorrente da perda da sensibilidade que pode resultar em traumas nos pés,
podendo resultar em amputação (FERREIRA; VIEIRA; CARVALHO, 2010).
Nas internações por complicações
diabéticas 62,4% do total de internados passam por cirurgia de amputação, prejuízo
na qualidade de vida desse paciente e gerando elevação dos custos para o SUS (REZENDE
et al., 2008). A doença causa impacto
econômico notadamente nos serviços de saúdecom custos crescentes com doença
cardiovascular, diálise por insuficiência renal e cirurgia para amputação de
membros inferiores (BRASIL, 2013B).
De acordo com Moreira et al., (2011) o emprego de fontes de luz de
baixa potência como diodos emissores de luz (Light Emiting Diode- LEDs) ou
Laser de baixa intensidade, pode ser um recurso terapêutico opcional aos
métodos convencionais, ou ser utilizado em conjunto com terapias alternativas, com
a vantagem do baixo custo e comprovada eficiência no tratamento de úlceras.
A TLBI emite luz, ou seja, é uma forma de
energia transmitida por partículas denominadas fótons. Quando o feixe incide
sobre a superfície os fótons têm probabilidade de interagir com elétrons no
átomo, excitando-o. O elétron remite fótons em um processo de relaxação (DE
CAMPOS,1998).
O laser produz radiação diferente da
luz comum nos seguintes aspectos: Monocromaticidade, (comprimento de onda
único, portanto tem uma frequência definida); Coerência (os picos e as
depressões dos campos elétricos e magnéticos ocorrem ao mesmo tempo e na mesma
direção); e Colimação (permanecem em feixe paralelo, não divergem) (LOW; REED,
2001).
De acordo com Felice et. al (2009), a dose recomendada para promover o aumento no número
de fibroblastos, da vascularização, da reepitelização e da quantidade de fibras
colágenas deve situar-se entre 1 a 5 J/cm². Eles também verificaram importante
redução na área das úlceras tratadas com laser AsGaAl (830nm).
De acordo com Bertolini et al, (2011) o laser de baixa potência exerce efeitos biológicos nos tecidos através
de uma energia luminosa, que se transforma
em energia vital, produzindo analgesia, ação anti-inflamatória dentre outras
devido à aceleração da microcirculação provocada pelo equipamento.
Desta
forma, apresenta vantagens como método não invasivo, não farmacológico, indolor
e com baixo índice de efeitos colaterais (LINS et al., 2010). Demonstra
efeitos bioestimulatórios e vem sendo utilizado para o reparo de distintos
tecidos. Foi visto que o seu uso acarreta proporciona aumento da circulação e
síntese de colágeno pelos fibroblastos nos sítios da lesão (MOREIRA et al., 2011).
Dentre as terapias
alternativas que podem ser associados à TLBI, temos os ácidos graxos essenciais
(AGE). A partir do início da década de 1970, foram realizados estudos
demonstrando os efeitos dos AGE sobre a resposta imune devido à interferência
no processo inflamatório, como nas alterações vasculares, quimiotaxia, adesão,
diapedese, ativação e morte celular (HATANAKA ;CURY, 2007).
Existem diversos tipos de ácidos
graxos, dentre eles a popularmente conhecida malmequer, Calêndula officinalis,
muito comum no mediterrâneo. A utilização desse óleo, por via tópica, foi
sugerida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por suas ações
terapêuticas anti-inflamatórias e cicatrizantes, como terapia alternativa
(BRASIL,2008).
Calêndula
officinalis
apresenta propriedades adstringentes, analgésica, antiabortiva, antifúngica,
calmante, cicatrizante, reguladora de menstruação, anti-inflamatória,
antisséptica, bactericida, tonificante, suavizante e refrescante para a pele.
Costuma ser indicada em lesões superficiais como feridas e ulcerações dérmicas,
queimaduras e escaras (PRISTO, 2013).
No Piauí
são escassos os dados estatísticos referentes ao pé diabético. A cidade de
Teresina tem hoje 5,6% de sua população acometida pelo DM, conforme diagnóstico médico (VIGITEL, 2014), muitos dos
acometidos desconhecem as condições patológicas e suas complicações.
Portanto, a utilização da Terapia a
Laser de baixa intensidade (TLBI) e sua combinação com a aplicação de AGE (óleo
de calêndula) no tratamento de úlceras em pé diabético apresenta-se como uma
nova proposta terapêutica, visando à cura dessas lesões, à melhoria na
qualidade de vida dos indivíduos acometidos, bem como à diminuição dos custos
assistenciais para seu tratamento no sistema de saúde.
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