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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

ESTABILOMETRIA E ALTERAÇÃO DE EQUILÍBRIO EM DEFICIENTES AUDITIVOS

Tásia Peixoto de Andrade Ferreira

Nos últimos anos ocorreu um aumento nas preocupações com as alterações da postura corporal relacionada com a qualidade de vida. A partir disso surge a necessidade de diagnósticar mais especificamente mesmo pequenas alterações, percebidas ou não aos olhos, promovendo um direcionamento para uma intervenção adequada para as possíveis alterações. Uma opção para esse diagnótico é o exame de estabilometria, através do aparelho de Baropodometria.
  








FONTE: www.arkipelago.com.br

Clínicamente, a estabilometria é uma ferramenta de diagnóstico para avaliar e registrar o estado de equilíbrio postural, que frequentemente pode identificar déficits sensoriais. É um método de avaliação do equilíbrio na postura ortostática, enquanto o indivíduo permanece de pé sobre uma plataforma de força, realizado por meio da quantificação das oscilações do corpo, onde os deslocamentos nos eixos ântero-posterior e médio lateral são analisados em relação ao centro de pressão, sendo este considerado uma importante ferramenta biomecânica para o entendimento do equilíbrio corporal (MATOS, 2006; FROSSARD et al., 2010; MATOS et al., 2010; SÁ; BIM, 2012 ; CARVALHO et al., 2013).
Três modalidades sensoriais são responsáveis pela orientação postural: a Propiocepção, que é responsável pela orientação de posição e movimento de uma parte de corpo relativa à outra parte do corpo; a Expropiocepção, responsável pela sensação de posição e movimento de uma parte do corpo em relação ao ambiente; e a Exterocepção, que é responsável por localizar um objeto no ambiente em relação a outro. O sistema vestibular é puramente expropioceptivo. O sistema auditivo é expropio e exteroceptivo. Por sua vez, o sistema somatossensorial é expropio e propioceptivo. E o sistema visual é influenciado pela interação destas três modalidades (KLEINNER et al., 2011).
O desenvolvimento de algumas habilidades motoras, como a coordenação motora e o equilíbrio, ocorrem pela interação harmoniosa dos sistemas musculo-esquelético e nervoso para produzir ações cinéticas precisas e equilibradas. Quando algum desses sistemas falha é possível ocorrer um desequilíbrio nessa interação, ocasionando assim déficit de equilíbrio e coordenação. Deficits com essa origem podem estar presentes em crianças que apresentam deficiência auditiva, pois seu sistema sensorial estará comprometido (NETO et al., 2010; RIBEIRO et al., 2012).
O equilíbrio é um processo complexo que envolve a recepção e a integração de estímulos sensoriais provenientes de três sistemas: somatossensorial, vestibular e visual, aliados ao planejamento e à execução do movimento para alcançar um objetivo, requerendo uma postura ereta. Qualquer interferência nesses sistemas leva ao desenvolvimento de mecanismos adaptativos que amenizam os efeitos da deficiência, sendo que, quando não estimulados, induzem a alguns acometimentos posturais (SÁ ; BIM, 2012).
O equilíbrio consiste ainda na manutenção do centro de gravidade dentro da área da superfície de apoio e se apresenta de três formas: equilíbrio estático (exemplo: ficar parado em determinada posição); equilíbrio dinâmico, que é conseguido no movimento e que depende do dinamismo dos processos nervosos (exemplo: o andar); equilíbrio recuperado, que é a qualidade física que explica a recuperação do equilíbrio numa posição qualquer (exemplo: salto do cavalo, saída da barra fixa, cortada no voleibol) (AZEVEDO; SAMELLI, 2009).
A perda auditiva pode ser classifica quanto à localização da alteração: Condutiva, Neurossensorial, Mista e Central; e quanto ao grau de comprometimento: leve, moderado; moderadamente severo, severo e profundo. As alterações da perda auditiva Neurossensorial estão localizadas no ouvido interno, envolvendo o órgão de Corti (lesão sensorial), e/ou fibras do nervo auditivo (SOUSA, 2012).
O aparelho vestibular, situado na orelha interna, é responsável pela detecção da posição da cabeça em todos os momentos. Quando o aparelho vestibular apresenta algum tipo de distúrbio, o equilíbrio da pessoa pode ser afetado, como é o caso de alguns indivíduos com perda auditiva neurossensorial. Uma vez que o aparelho vestibular e a cóclea são órgãos anatomicamente muito próximos e devem ser susceptíveis aos mesmos agentes nocivos é razoável presumir que muitas crianças surdas têm problemas vestibulares concomitantes à perda auditiva (KLEINER et al., 2011; LISBOA et al., 2005).
Alguns estudos demonstraram que desordens vestibulares são encontradas em aproximadamente 20 a 70% de crianças com perdas auditivas de diferentes causas. Esta desordem vestibular pode afetar a aquisição de habilidades motoras ou interferir na integração sensorial. Um possível retardo no desenvolvimento motor de crianças com surdez neurossensorial pode ser causado pelo déficit na quantidade e/ou qualidade das informações provenientes do aparelho vestibular, incluindo a sensação de equilíbrio e tônus labiríntico, o que dificultaria o estabelecimento das relações com ambiente (ARAÚJO et al., 2001; CUSHING et al., 2008; AZEVEDO; SAMELLI, 2009)
No exame estabilométrico podem ser avaliadas as oscilações dos seguintes parâmetros: Centro de Massa, Centro de Gravidade, Força de Reação ao solo e Centro de Pressão. Destes, o mais utilizado é o Centro de Pressão (COP). A escolha do método depende dos objetivos da pesquisa, no entanto, para a avaliação estática a maioria usa as variações do COP para estudos em adultos ou crianças. As variações do COP representam a somatória de todas as forças inerciais e voluntárias, como as contrações musculares. Por isso, ela é potencialmente sensível para avaliar as diferenças mais sutis que as oscilações do centro de gravidade (COG) (SOUSA, 2006).
A plataforma de força consiste de placa sob a qual sensores de força, tipo célula de carga ou piezoelétrico, estão arranjados para medir os dois componentes da força, Fx e Fy, e dois componentes do momento de força, Mx e My, agindo sobre a plataforma. O dado do COP refere-se a uma medida de posição definida por duas coordenadas na superfície da plataforma. Essas duas coordenadas são identificadas em relação à orientação do sujeito: o eixo “y” se refere à direção anteroposterior e o eixo “x” à direção médio-lateral. A grandeza física Força é transformada em sinais elétricos analógicos pela plataforma de força, com características específicas de amplitude e frequência. Estes sinais analógicos são convertidos em sinal digital e posteriormente são processados por programa de computador que gerencia a aquisição e armazena o sinal (SOUSA, 2012).
Com isso na avaliação estabilométrica são levantados os parâmetros de deslocamentos do centro de pressão (COP) nas direções laterais (X) e ântero-posterior (Y). Para tanto, esses dados são coletados por meio de um aparelho. Como exemplo desse aparleho temos o Baropodômetro Eletrônico Footwork, com plataforma de força com 2.704 captadores capacitivos calibrados, superfície ativa de 400 mm x 400 mm, com dimensões de 575 x 450 mm, espessura de 4 mm/ 5mm com borracha de revestimento em policarbonato, 3,0 Kg de peso.
A plataforma utilizada encontra-se acoplada a um sistema computadorizado que permite a aquisição e o processamento digital dos sinais, ou seja, a plataforma capta os sinais pelos seus captadores, depois realizam um processamento analógico e em sequência realizam uma conversão analógica digital, que é de 16bits e possui uma frequência de 150Hz, para então levar as informações para um Microcomputador. A medida do captador é de 7,62 mm x 7,62 mm e a pressão máxima por cada captador é de 100 N/cm2. O Baropodômetro é autoalimentado pela entrada USB e a vida útil dos seus captadores é, em média, de 1.200.000 exames. O aparelho possui ainda conexão para PC USB2 compatível 1.1 e a configuração do computador utilizado para a coleta dos dados caracteriza-se por: notebook HP, processador 1.86 GHz, 0,99 GB de memória RAM, Windows 10.
                  
           FONTE: Próprio autor

Encerraremos enfatizando a importância deste exame para a exatidão de alterações posturais que muitas vezes não são percebidas a olho nu ou por outros testes menos específicos, tornando-o assim um importante exame não somente para a área científica que estuda o assunto mas também para a sociedade em geral que anseia por respostas aos problemas como o exposto, a alteração de equilíbrio nos deficientes auditivos

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, S. M.; et al. Equilíbrio estático em crianças portadoras de deficiência auditiva neurossensorial. Cad UniABC de Educação Física, v. 16, p. 56-70, 2001.

AZEVEDO M.G.; SAMELLI A.G. Estudo comparativo do equilíbrio de crianças surdas e ouvintes. Rev CEFAC, v.11, Supl1, 85-91, 2009.

CARVALHO, F. T. et al. Análise da oscilação corporal de idosos através da estabilometria. In: Encontro de Pós Graduação e Iniciação Científica da Unicastelo, 2013. São José dos Campos. Anais eletrônicos. São José dos Campos: Universidade Camilo Castelo Branco, 2013. Disponível em:< http://unicastelo.br/epginic/arquivos/anais/epg/ciencias_da_saude/213%20-%20EPG082.pdf>. Acesso em: 24 out. 2014.

CUSHING SL, et al. Evidence of vestibular and balance dysfunction in children with profound sensorineural hearing loss using cochlear implants. Laryngoscope; 118(10):1814-23. 2008. Disponível em: < http://www.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1097/MGL.0b013e31817fadfa/pdf>. Acesso: 08 set. 2015.

FROSSARD, M. R. et al. Avaliação da estabilometria em crianças deficientes visuais.  In: Encontro Anual de Iniciação Científica, 19, 2010. Guarapuava. Anais eletrônicos. Guarapuava: Universidade Estadual do Centro-Oeste. Disponível em: < http://anais.unicentro.br/xixeaic/pdf/2681.pdf>. Acesso em: 14 out. 2010.

KLEINER, A.F.R. et al. O papel dos sistemas visual, vestibular, somatossensorial e auditivo para o controle postural. Rev Neurocienc, v.19, n.2, p.349-357,2011.

LISBOA T.R. et al. Achados Vestibulares em Crianças Deficientes Auditivas. Arq. Otorrinolaringol., São Paulo, v.9, n.4, p. 271-279, 2005.

MATOS, M. R. Análise do equilíbrio em postura ortostática em crianças com deficiência visual por meio de parâmetros estabilométricos. 2006. 56f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Biomédica). Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, 2006. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=120303>. Acesso em: 19 out. 2014. 

MATOS, M. R., et al. Equilíbrio estático da criança com baixa visão por meio de parâmetros estabilométricos. Fisioter Mov., v. 23, n. 3, p. 361-9, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/fm/v23n3/a03v23n3.pdf>. Acesso em: 13 out. 2014.

NETO,F. R.et al. A importância da  avaliação motora em escolares:análise da confiabilidade da escala de desenvolvimento motor. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desenvolvimento Humano, v.12, n.6, p.422-427, 2010.

RIBEIRO, A.S. et al.Teste de coordenação corporal para crianças(KTK): aplicações e estudos normativos. Motricidade, v.8, n.3, p.40-51, 2012.

SÁ, C.G.; BIM, C.R. Análise estabilométrica pré e pós-exercícios fisioterapêuticos em crianças deficientes visuais. Fisioter. Mov., v. 25, n. 4, 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/fm/v25n4/a14v25n4>. Acesso: 08 out. 2014.

SOUSA, A.M.M. Avaliação da coordenação motora global e do equilíbrio em portadores de deficiência auditiva. 2006. 133p. Dissertação Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade de Brasília. Brasília. 2006.

SOUSA A.M.M. Equilíbrio corporal e controle postural entre crianças com desenvolvimento típico e crianças com deficiência auditiva usuárias e não-usuárias de implante coclear. 2012. 123p. Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade de Brasília. Brasília, 2012.


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