Tásia
Peixoto de Andrade Ferreira
Nos
últimos anos ocorreu um aumento nas preocupações com as alterações da postura
corporal relacionada com a qualidade de vida. A partir disso surge a
necessidade de diagnósticar mais especificamente mesmo pequenas alterações, percebidas
ou não aos olhos, promovendo um direcionamento para uma intervenção adequada
para as possíveis alterações. Uma opção para esse diagnótico é o exame de
estabilometria, através do aparelho de Baropodometria.
FONTE: www.arkipelago.com.br
Clínicamente,
a estabilometria é uma ferramenta de
diagnóstico para avaliar e registrar o estado de equilíbrio postural, que frequentemente
pode identificar déficits sensoriais. É um método de avaliação
do equilíbrio na postura ortostática, enquanto o indivíduo permanece de pé
sobre uma plataforma de força, realizado por meio da quantificação das
oscilações do corpo, onde os deslocamentos nos eixos ântero-posterior e médio lateral são
analisados em relação ao centro de pressão, sendo este considerado uma
importante ferramenta biomecânica para o entendimento do equilíbrio corporal (MATOS,
2006; FROSSARD et al., 2010; MATOS et al., 2010; SÁ; BIM, 2012 ;
CARVALHO et al., 2013).
Três
modalidades sensoriais são responsáveis pela orientação
postural: a Propiocepção, que é responsável pela orientação de posição e
movimento de uma parte de corpo relativa à outra parte do corpo; a
Expropiocepção, responsável pela
sensação de posição e movimento de uma parte do corpo em relação ao
ambiente; e a Exterocepção,
que é responsável por localizar um objeto no ambiente em relação a
outro. O sistema vestibular é puramente
expropioceptivo. O sistema auditivo é
expropio e exteroceptivo. Por sua vez, o sistema somatossensorial é expropio e
propioceptivo. E o sistema visual é influenciado pela interação destas três modalidades (KLEINNER et al., 2011).
O
desenvolvimento de algumas habilidades motoras, como a coordenação motora e o
equilíbrio,
ocorrem pela interação harmoniosa dos sistemas musculo-esquelético e nervoso para produzir ações cinéticas
precisas e equilibradas. Quando algum desses sistemas falha é
possível ocorrer um desequilíbrio
nessa interação, ocasionando assim déficit de equilíbrio
e coordenação. Deficits com essa origem podem estar presentes em crianças que
apresentam deficiência auditiva, pois seu sistema sensorial estará comprometido
(NETO et al., 2010; RIBEIRO et al., 2012).
O
equilíbrio é um processo complexo que envolve a recepção e a integração de estímulos
sensoriais provenientes de três sistemas: somatossensorial, vestibular e
visual, aliados ao planejamento e à execução do movimento para alcançar um objetivo, requerendo
uma postura ereta. Qualquer interferência nesses sistemas leva ao
desenvolvimento de mecanismos adaptativos que amenizam os efeitos da
deficiência, sendo que, quando não estimulados, induzem a alguns acometimentos
posturais (SÁ ; BIM, 2012).
O equilíbrio consiste ainda na manutenção do centro de
gravidade dentro da área da superfície de apoio e se apresenta de três formas: equilíbrio estático (exemplo: ficar parado em determinada
posição); equilíbrio dinâmico,
que é conseguido no movimento e que
depende do dinamismo dos processos nervosos (exemplo: o andar); equilíbrio
recuperado, que é a qualidade física
que explica a recuperação do equilíbrio
numa posição qualquer (exemplo: salto do cavalo, saída da barra fixa, cortada
no voleibol) (AZEVEDO; SAMELLI, 2009).
A perda auditiva pode ser classifica quanto à localização
da alteração: Condutiva, Neurossensorial, Mista e Central; e quanto ao grau de
comprometimento: leve, moderado; moderadamente severo, severo e profundo. As
alterações da perda auditiva Neurossensorial estão localizadas no ouvido
interno, envolvendo o órgão de Corti (lesão
sensorial), e/ou fibras do nervo auditivo (SOUSA, 2012).
O
aparelho vestibular, situado na orelha interna, é responsável pela detecção da posição da cabeça em todos os
momentos. Quando o aparelho vestibular apresenta algum tipo de distúrbio, o
equilíbrio da pessoa pode ser afetado, como é o caso de alguns indivíduos com
perda auditiva neurossensorial. Uma vez que o aparelho vestibular e a cóclea são órgãos anatomicamente muito próximos e devem ser
susceptíveis aos mesmos agentes nocivos é razoável presumir que muitas crianças surdas têm problemas vestibulares concomitantes à perda
auditiva (KLEINER et al., 2011; LISBOA et al., 2005).
Alguns
estudos demonstraram que desordens vestibulares são encontradas em
aproximadamente 20 a 70% de crianças com perdas auditivas de diferentes causas.
Esta desordem vestibular pode afetar a aquisição de habilidades motoras ou
interferir na integração sensorial. Um possível retardo no desenvolvimento
motor de crianças com surdez neurossensorial pode ser causado pelo déficit na quantidade e/ou qualidade das informações provenientes
do aparelho vestibular, incluindo a sensação de equilíbrio
e tônus
labiríntico, o que dificultaria o
estabelecimento das relações com ambiente (ARAÚJO et al., 2001;
CUSHING et al., 2008; AZEVEDO; SAMELLI, 2009)
No exame estabilométrico podem ser avaliadas as oscilações dos seguintes
parâmetros: Centro de Massa, Centro de Gravidade, Força de Reação ao
solo e Centro de Pressão. Destes, o mais utilizado é o Centro de Pressão (COP).
A escolha do método depende dos objetivos da pesquisa, no entanto, para a
avaliação estática a maioria usa as variações do COP para estudos em adultos ou
crianças. As variações do COP representam a somatória de todas as forças
inerciais e voluntárias, como as contrações musculares. Por isso, ela é potencialmente sensível para avaliar as diferenças mais sutis que as
oscilações do centro de gravidade (COG) (SOUSA, 2006).
A plataforma de força consiste de placa sob a qual sensores de força, tipo célula de
carga ou piezoelétrico, estão arranjados para medir os dois componentes da
força, Fx e Fy, e dois componentes do momento de força, Mx e My, agindo sobre a
plataforma. O dado do COP refere-se a uma medida de posição definida por duas
coordenadas na superfície da plataforma. Essas duas coordenadas são
identificadas em relação à orientação do sujeito: o eixo “y” se refere à direção
anteroposterior e o eixo “x” à direção médio-lateral. A grandeza física
Força é transformada em sinais elétricos analógicos pela
plataforma de força, com características específicas de amplitude e frequência.
Estes sinais analógicos são convertidos em sinal digital e posteriormente são
processados por programa de computador que gerencia a aquisição e armazena o
sinal (SOUSA, 2012).
Com isso na avaliação estabilométrica
são levantados os parâmetros de
deslocamentos do centro de pressão (COP) nas direções laterais (X) e ântero-posterior
(Y). Para tanto, esses dados são coletados por meio de um aparelho. Como
exemplo desse aparleho temos o Baropodômetro Eletrônico Footwork, com
plataforma de força com 2.704 captadores capacitivos calibrados, superfície
ativa de 400 mm x 400 mm, com dimensões de 575 x 450 mm, espessura de 4 mm/ 5mm
com borracha de revestimento em policarbonato, 3,0 Kg de peso.
A plataforma utilizada encontra-se acoplada a um sistema
computadorizado que permite a aquisição e o processamento digital dos sinais,
ou seja, a plataforma capta os sinais pelos seus captadores, depois realizam um
processamento analógico e em sequência realizam uma conversão analógica – digital, que é
de 16bits e possui uma frequência
de 150Hz, para então levar as
informações para um Microcomputador. A medida do captador é de 7,62 mm x 7,62
mm e a pressão máxima por cada
captador é de 100 N/cm2. O Baropodômetro é autoalimentado pela entrada USB e a vida útil dos seus
captadores é, em média, de 1.200.000 exames. O aparelho possui ainda conexão
para PC USB2 compatível 1.1 e a configuração do computador utilizado para a coleta dos dados
caracteriza-se por: notebook HP, processador 1.86 GHz, 0,99 GB de memória
RAM, Windows 10.
FONTE: Próprio autor
Encerraremos
enfatizando a importância deste exame para a exatidão de alterações posturais
que muitas vezes não são percebidas a olho nu ou por outros testes menos
específicos, tornando-o assim um importante exame não somente para a área
científica que estuda o assunto mas também para a sociedade em geral que anseia
por respostas aos problemas como o exposto, a alteração de equilíbrio nos
deficientes auditivos
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, S. M.; et al. Equilíbrio
estático em crianças portadoras de deficiência auditiva neurossensorial. Cad
UniABC de Educação
Física,
v. 16, p. 56-70, 2001.
AZEVEDO M.G.; SAMELLI A.G. Estudo comparativo do equilíbrio de crianças
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Encontro de Pós
Graduação e Iniciação Científica da Unicastelo, 2013. São José dos Campos. Anais eletrônicos. São José dos Campos: Universidade Camilo Castelo Branco, 2013. Disponível em:< http://unicastelo.br/epginic/arquivos/anais/epg/ciencias_da_saude/213%20-%20EPG082.pdf>.
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SOUSA A.M.M. Equilíbrio corporal e controle postural entre crianças com
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auditiva usuárias e não-usuárias de implante
coclear. 2012. 123p. Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade de Brasília. Brasília, 2012.
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